segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Obrigada, 2010

Li nesta manhã um texto do Caio Fernando Abreu que me tocou imensamente. Tocou-me de forma intensa, arrepiou-me todo o corpo e impediu-me de ler ou fazer qualquer outra coisa. Não pela identificação, mas pela falta dela.
Há pouco tempo atrás talvez eu sentisse com plenitude todos os sentimentos descritos ali, mas hoje, sinto apenas ausência daquilo tudo.
O texto fala sobre “A Grande Falta”, sobre um buraco imenso que nos preenche. Um buraco que carrega muito em sua ausência, e sobre essa falta de esperança, de futuro, de amor, de alegria, ou qualquer coisa assim. Intermitente como febre, com pequenos intervalos de vida e grande permanência do nada.
Hoje não. Hoje eu tenho plenitude e não falta, exteriorização e não introspecção. Hoje escrevo por amor, a alguém ou à arte de escrever e não por dor. Essa falta de identificação com este texto me fez pensar. Sinto falta deste sentimento SIM. Sou uma melancólica por natureza, mas experimentei coisas lindas com esta ausência.
O ano de 2010 foi (e tem sido) incrível pra mim. Foi o ano da presença, foi um ano onde laços se refizeram e outros se criaram, foi o ano em que esqueci o “grande amor da minha vida” e me apaixonei por outra pessoa, foi quando ganhei amigos incríveis e descobri aqueles que não eram nada disso.
Foi o ano em que tive menos presença física da minha melhor amiga, mas quando a senti mais perto do que nunca. Foi quando se firmou o amor imenso e a amizade incondicional que tenho por ela e pela irmã maravilhosa que ela tem.
Foi quando eu ganhei a “preta” e a bijuzinha de presente. Os melhores presentes do ano, sem dúvida!
Quando tive certeza absoluta de que o punk que eu juntava bêbado na rua pra levar pra casa era mais um irmão do que qualquer outra coisa, que meu irmão era mais meu melhor amigo que qualquer outra coisa e que minha cunhada era um tesouro pra eu carregar pra sempre.
Me apaixonei. Não fui correspondida. Até essa dor diária que carreguei por meses foi linda e por ela sou grata. Por todas as vezes que eu me perguntei “why do you build me up, buttercup baby?”, por todos os acordes da Amy Winehouse que me comoviam, por todos os textos que me rendeu, pelas noites divertidas tentando exorcizá-lo, pelas amizades que firmei, pelas garotas, todas incríveis, lindas, maravilhosas, pacientes, me ouvindo reclamar, e elas mesmas, xingando o pobre coitado que nem sabia o que estava acontecendo ou o porquê de ser tão diariamente amaldiçoado.
Fui mulher o bastante este ano. Pra amar, pra entrar num cursinho, pra tentar Medicina a esta altura do campeonato, pra estudar todos os dias, pra conviver com pessoas muito mais novas que eu e descobrir, num ambiente tão diferente do meu habitat, pessoas maravilhosas (inclusive algumas das amigas lindas que me ouviam reclamar, dia após dia, a minha falta de correspondência) e de quem vou sentir muitas saudades.
Foi o ano em que vivi pra fora. Em que fui muito menos egoísta e que mais senti o que era a viver, com todos os seus trancos e barrancos e adorei!
Ganhei uma família nova morando em outra cidade, com uma mãe (quase) tão incrível quanto a minha e aprendi a conviver e a amar alguém tão diferente de mim e tão valiosa.
Minha banda. Outra coisa que não fiz pra mim, mas que tive pulso para enfrentar. Eu, que nunca me imaginei tocando um instrumento num palco e muito menos cantando, hoje sinto um amor gigantesco pelo que faço, um brilho nos olhos e uma felicidade muito saudáveis.
Eu fui feliz em 2010, muito feliz. Fui criança, fui adulta, fui eu mesma em plenitude aparentando ser mais superficial do que a garota intensa e amarga de antigamente, mas muito mais radiante. E foi bonito e me acrescentou coisas incríveis. Amadureci mais este ano do que nos últimos quatro ou cinco todos de uma vez.
Sou grata a 2010 por tudo que vou levar pra minha vida.
E a vocês, amigos, um muito obrigada com lágrimas nos olhos, por cada segundinho de riqueza que vocês me deixaram este ano. Eu amo vocês.

P.S.: A quem interessar possa: O texto chama-se "Transformações" e pertence ao livro "Morangos Mofados". Vale a pena ler, é lindamente incrível! =)