domingo, 30 de novembro de 2008

Ah, o amor!


Nunca entendi muito bem o amor romântico, o amor Eros, essa coisa toda.
Sempre criei teorias sobre procriação para preservação da espécie e coisas do gênero, até que comecei a gostar de garotas e esta teoria foi auto-desbancada. Depois dela, não criei nenhuma coerente, apesar de sempre procurar um motivo pelo qual eu desejo a presença de alguém perto de mim. Faz parte da minha natureza procurar explicações para tudo. Mas tem coisas que a gente não entende, só sente. E esta é minha luta eterna: deixar de ser tão racional e passar a permitir que meu coração fale comigo de vez em quando.
Acho que é uma tendência nossa ligar a palavra “amor” à “romance” e esquecer que ele tem várias formas de se demonstrar.
Hoje eu entendi um pouquinho do amor e quem me explicou foi o meu coração.
Suspirar ao pensar em alguém. Querer ver esta pessoa feliz a todo custo, ser capaz de tudo para que isso aconteça. Perto, longe, com você ou sem você.
Torcer pelo sucesso, pela realização, pelos sorrisos e pelos amores desta pessoa.
Cuidar, ouvir, abraçar com sinceridade. Ver nesta pessoa a melhor companhia do mundo, sentir saudades quando está longe, ficar sem se ver por meses e quando se reencontrar perceber que o sentimento só cresceu e o relacionamento só evoluiu.
É sentir alegria quando a pessoa está por perto e paz quando ela parte, por tudo que ela deixou pra você nas horas em que passaram juntos.
É não esperar nada em troca, é saber que ela pode te decepcionar e você a ela, mas que isso não vai mudar o que já foi sentindo dentro do seu coração.
Sou cética, sou solitária, sou fria e amarga.
Não acredito em amor romântico e nunca cri nas amizades.
Mas hoje, os suspiros do meu coração grato e feliz, me ensinaram que, independente do que venha do lado de lá, amar do lado de cá é uma delícia!

*Hildinho, meu amigo amado, este texto é pra você. ;)
Te amo!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sede de que?


Minha namorada tem 17 anos.
Lembro-me muito bem, de com esta idade, excitar-me em meio a uma aula de física qualquer, apenas por lembrar-me da noite passada, de um beijo ou de um toque mais caliente.
Lembro-me também, do quanto somos capazes de falar bobagens quando estamos ali, no início da nossa vida adulta.
E foi com uma dessas bobagens que minha namorada me fez refletir.
“Eu sei por que ando tão estressada”, ela disse. “Preciso de você!”
E quando questionei, qual era a minha importância pra ela, já que ela precisava tanto de mim, a resposta foi (ou não) surpreendente:
“Preciso de sexo”.
Ainda atordoada com a resposta fútil e frustrante, li uma frase de Milan Kundera que encheu minha alma de frescor... E de dúvidas sobre meu relacionamento:
“É preciso salvar o amor da tolice da sexualidade".
O que eu ganho em ser a dona do corpo dela enquanto eu gostaria mesmo era de ocupar os pensamentos, o coração, os sorrisos? Enquanto eu gostaria de ouvir “eu preciso de um abraço seu” ou “eu preciso de um conselho, de colo, de ouvido...”
Até que ponto a fidelidade é um ganho nesta história? O que é ser fiel, afinal de contas? É guardar o corpo só pra mim? E o preço que eu tenho que pagar por isso é suportar o estresse do sexo latejante da minha adolescente vingando-se da minha ausência com agressividade verbal, por exemplo?
Tomas, em a “A insustentável leveza do ser” é um exemplo perfeito.
Ninguém dormia na sua cama. Pra ele, sexo não passava de alívio de tensões carnais. Mas Tereza não. Tereza era amor. E ela podia dormir na sua cama. Pra ela, ele guardava aquela caixinha secreta que todos temos no coração. Mas seu corpo, este era de qualquer uma, de todas, de quem o desejasse.
Ainda acredito na poligamia dos humanos. Alguém que diz precisar de mim para sexo, não precisa da essência do que sou, só da minha carne e eu tenho mais do que isso guardado dentro de mim.
Pra quem quiser amor e carinho, pra quem quiser colo, música, poesia e cumplicidade, eu tenho uma alma inteira pra doar. Pra quem precisar de sexo... O mundo está cheio de corpos vazios perambulando por aí.

p.s.: encontrei estas palavras lendo Rubem Alves.
"A sexualidade pertence à ordem da biologia, o que nos aproxima dos animais. Mas o amor, pertence à ordem da poesia."

A menina e o pássaro encantato


* Texto de Rubem Alves. (vale a pena!)

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar.
Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...
Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.
Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.
"- Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você...".
E assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça.
"... Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga.
Minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.
E de novo começavam as estórias.
A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre.
Mas chegava sempre uma hora de tristeza.
"- Tenho que ir", ele dizia.
"- Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar....".
"- Eu também terei saudades", dizia o pássaro. "-- Eu também vou chorar.
Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas.
Se eu não for, não haverá saudades.
Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.
Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
"- Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz".
Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera.
Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar.
Cansado da viagem, adormeceu.
Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.
Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro.
"- Ah! Menina... Que é que você fez? Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias...".
Sem a saudade, o amor irá embora...
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente.
Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio; deixou de cantar.
Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava.
E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo...
Até que não mais agüentou.
Abriu a porta da gaiola.
"- Pode ir, pássaro, volte quando quiser...".
"- Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito.
Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar...
E partiu. Voou que voou para lugares distantes. A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia.
"- Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo...".
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos...
"- Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje...
Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro.
Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar.
AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama...
E foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento.
- Quem sabe ele voltará amanhã....
E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.