segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Butch x Femme


Algumas coisas no mundo gay sempre acabam instigando curiosidade nas pessoas.
Coisas do tipo: como vocês fazem? Ou: Quem é “o homem” e quem é “a mulher”? Eu, particularmente, sinto-me ofendida com estas perguntas, até porque, acredito que a minha intimidade e o que eu faço entre quatro paredes, só cabe a mim. Ao mesmo tempo, sempre considerei este pensamento um tanto absurdo, porque se eu estou com outra mulher é porque eu gosto de mulher, e nenhuma de nós precisa ser “o homem” da relação pra que a coisa funcione, certo? Nem sempre.
Entendo, conheço e respeito casos bem diferentes destes, como garotas que se identificam como garotos e que gostam de ser tratadas assim, tanto na vida, quanto na cama, sem que, necessariamente, Moiras transformem-se em Max.
Porém, há um tempo atrás, me deparei com uma situação que me deixou um tanto quanto desconfortável e até mesmo perturbada, perante este cenário de gêneros que algumas garotas gays assumem pra si. Estava na casa de uma conhecida léz que tem uma mãe também léz. Ambas estavam com suas respectivas namoradas. A minha conhecida e sua mãe são mulheres bonitas e femininas. Sendo assim, suas namoradas eram dois garotos. Por que “sendo assim”? Eu explico, transcrevendo aqui o diálogo das duas “bofinhos”:

Dani: - Hei, você viu a menina que a Fulana ‘tava ficando ontem?
Fran: - Eu vi, cara, que absurdo, ridículo!
Eu: - Nossa, gente, o que tinha tanto a coitada da menina?
Fran: - Ué, era uma mulher, cara! De sainha, toda feminina!
Eu: - E daí?
Dani: - E daí que a Fulana também é feminina! Onde já se viu? Duas mulheres se beijando? Um horror!!!

Não, garotas, não estou brincando. Diálogo real, extraído da vida real. Que me deixou bastante confusa e, por que não, horrorizada com o tamanho do preconceito, machismo e tentativa de cópia do universo hetero que pode existir dentro de um universo que eu, pelo menos, esperava ser mais aberto, compreensivo e receptivo às diferenças e diversidades.
Eu, como “mulherzinha” que usa “sainha” e adora uma “mulherzinha” de decote profundo e maquiagem no rosto, defendi a causa lésbica (perante duas lésbicas!) como podia, mas mesmo assim, percebi a barreira do gênero, o preconceito contra mim e o orgulho do “pênis” naquelas duas garotas. Elas nunca mais me olharam da mesma forma. Ouvi piadinhas e risadinhas, ao contar que maquiava minha ex-namorada antes de sairmos de casa ou dizer que ela adorava um scarpin.
Virei uma aberração por não formar um casal de “macho x fêmea”.

Fica aqui uma reflexão para todas nós: onde a gente esconde o nosso conservadorismo?

Um beijo à todas.
Já estava com saudades. =)