sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Amadas palavras.

Acredito das letras e na linguagem. Acredito que o vocabulário de uma pessoa possa dizer muito sobre quem ela é e que cada palavra proferida por ela seja parte integrante de sua personalidade.
Meus amigos são exemplos incríveis desta afirmação, já que criamos para nós uma espécie de dialeto, com palavras características que nos doem nos ouvidos quando vindas de pessoas de fora do círculo. Elas determinam a nossa unidade e compreensão mútua. Elas são "nossas"!
Por causa desta minha paixão e crença nos vocábulos, eu acabo levando ao extremo minhas observações, variando do amor ao ódio por palavras específicas usadas por pessoas importantes pra mim e isso acaba virando um souvenir que carrego para, novamente, adorar ou detestar um pouquinho mais um certo alguém.
"Apenas", ela usa. Usa muito nos finais das frases e todo "apenas" que eu ouço acaba me lembrando ela. Palavra comum, nada de neologismos ou colocações hiperbólicas ou metonímicas. Só esse uso da palavra "apenas" nos finais das frases. E isso faz com que eu goste dela ainda mais.
"Enfim" é absolutamente a cara dele. Quando não tem mais o que dizer, quando quer concluir um assunto de forma a sair por cima e não receber mais respostas, ele usa o reticente "enfim" como ponto final e isso me é extremamente irritante!
"Demorou!" Todos eles usam. Engraçado conversar com um grupo de amigos separadamente e percebê-los interligados pela sutileza das palavras. Acho bonito.
E aí tem as palavras escatológicas que utilizamos para ilustrar o quanto algo foi absurdamente engraçado. E as palavras e termos novos que aprendemos, nos apaixonamos e incorporamos (sempre, claro, com autorização prévia do interlocutor) como o novo e divertido, pelo menos pra mim, "balanga teta" no lugar da já desgastada "balada".
E as irritantes expressões inexpressivas e monossilábicas com cara de gente arrogante que utiliza o "nem" no lugar de "não, obrigada".
As inventadas, os estrangeirismos colocados de forma adequada e inteligente ou aquelas palavras difíceis e reclusas que só aquele seu amigo meio gênio utiliza.
Tem as nossas preferidas, as odiadas, as gostosas de pronunciar e as que deixam a boca oca, como as de vogais repetidas.
De qualquer forma e vestidas como vierem, me irritando inicialmente ou não, sou uma amante das palavras. E tenho ciúmes delas!
Não consigo aceitar uma "roupa apertada" em alguém, palavra usada sem alma, no invólucro errado. Ao mesmo tempo em que suspiro sorridente por pedacinhos de identidade pulando de bocas por aí.
Chafurde-se de palavras, sem medo de zoonoses. Faça rimas cretinas ou neologismos preciosíssimos. Put yourself togheter e embasbaque com seu galanteio verbal. Et mettre les lettres!

4 comentários:

Alice disse...

Adorei o texto, super bem escrito. Acho que as palavras são mesmo uma forma de união com as pessoas com as quais nos identificamos.

Anônimo disse...

"Dispenso-a de comparecer na minha ideia de si. A sua vida...Isso não é o meu amor; é apenas a sua vida. Amo-a como ao poente ou ao luar, com o desejo de que o momento fique, mas sem que seja meu nele mais que a sensação de tê-lo." Fernando Pessoa

Anônimo disse...

gostei, me fez parar pra pensar em algumas expressoes caracteristicas de pessoas com quem convivo.

Anônimo disse...

Esses dias senti seu cheiro...E junto com a saudade de poder tê-la por perto,dos seus cabelos,do seu sorriso,dos seus gestos,da sua pele,veio a falta arrebatadora dos seus textos,e-mails.PALAVRAS.Saudade dessa forma tão sua,que foi o que primeiro me encantou.Essa forma impregnada em mim até hoje,essa sua característica tão forte,tão própria,tão inesquecível...

Sempre aqui...
B.A